Retrospectiva Internacional 2023: apesar dos ataques, as lutas seguem!
Um breve relato da ação internacionalista do MES ao longo do ano
O ano de 2023 começou com as atenções voltadas ao Brasil durante a tentativa golpista de 8 de janeiro, com os bolsonaristas repetindo em Brasília a mesma ação da extrema direita norte-americana após a derrota de Trump, fato que refletimos no texto ‘Capitólio à brasileira’: enfrentar os fascistas, sem trégua nem anistia, de Israel Dutra e Roberto Robaina. Hoje, quase um ano depois, a situação brasileira segue em impasse com a extrema direita ainda forte (apesar da inelegibilidade de Bolsonaro) enquanto o governo Lula aposta na conciliação de classes e na austeridade fiscal como resposta, criando um cenário que coloca cada vez mais a necessidade de uma esquerda independente tal qual afirmamos no último congresso do PSOL em nossa Tese Militante: PSOL independente e anticapitalista.
O ano também começou com mobilizações no Peru, com o povo tomando as ruas contra a ditadura de Dina Boluarte. O regime fruto do golpe de estado que atingiu o ex-presidente Pedro Castillo segue em vigor, colocando hoje o país no grupo dos poucos países latino-americanos com regimes de exceção. Sobre o tema, trazemos o artigo A situação peruana após o golpe de Boluarte, escrito pelos camaradas Jorge Escalante, dirigente da corrente Súmate, e Antônio Neto, da Comissão Internacional do MES, além da entrevista O enigma peruano, com Héctor Béjar.
Na vizinha Venezuela, a repressão do governo Maduro aos trabalhadores gerou uma onda internacional de solidariedade que divulgamos em Venezuela: pela liberdade dos trabalhadores presos e que enfrentou resistência na categoria da educação, conforme registra Luis Bonilla em Venezuela: levante histórico do magistério. Também a questão do Essequibo foi tratada em profundidade pela companheira Zuleika Matamoros, entre outros textos.
Também na luta democrática, viabilizamos com diversos parceiros a vinda da companheira Mónica Baltodano ao Brasil. Ex-comandante guerrilheira da Revolução Sandinista, Mónica é hoje um dos principais nomes da resistência à ditadura de Ortega na Nicarágua e tem um papel central da denúncia da situação neste país. Sobre esta importante jornada, trazemos a entrevista de Pedro Fuentes com Mónica Baltodano e o Relatório da visita de Mónica Baltodano ao Brasil, Uruguai e Argentina escrito pela própria companheira.
Ao longo do continente, as diversas eleições demonstraram um cenário de acirramento dos conflitos, com vitórias e derrotas em diferentes escalas, conforme tratado no editorial de agosto Eleições na América Latina: um caminho aberto e em disputa, escrito após os resultados dos processos no Equador e na Guatemala. A derrota do plebiscito constitucional do Chile, analisada em Chile: uma leitura inicial da vitória da extrema direita nas urnas, foi outro momento de recuo, ainda que recentemente a proposta de Constituição feita pela direita também tenha sido derrotada. Já na Colômbia, o presidente Gustavo Petro deu bons sinais ao convocar a mobilização popular por reformas sociais país conforme debatemos em Perante a chantagem da oligarquia uribista, Petro indica um caminho.
A recente eleição do argentino Javier Milei à presidência mobilizou o repúdio do conjunto da militância internacional, tal como debate a nota do Secretariado Nacional do MES, Diante da vitória do reacionário Milei, mas a resistência já aponta seu norte com a recente mobilização daquele povo contra os ataques anunciados nos primeiros dias de governo, conforme registram diretamente de Buenos Aires os camaradas Vitor Cesario e Bárbara Leite Pereira em Um novo dezembro na Argentina. Registramos também nossa solidariedade aos militantes ameaçados no país, refletimos sobre o novo ajuste neoliberal e retransmitimos a mensagem da TLS Sindical à classe trabalhadora argentina.
No México, estivemos presentes na fundação do Movimento Socialista do Poder Popular (MSP), que surgiu como fruto da fusão de duas importantes organizações e representou um passo adiante na organização da IV Internacional na região.
Do Panamá, acompanhamos já nesse final de ano a grande vitória do movimento social ambientalista contra o extrativismo predatório, que derrotou a grande indústria da mineração e deu mais um exemplo da importância da mobilização pelas propostas ecossocialistas, assim como na vitória do plebiscito do Yasuni poucos meses antes no Equador. A entrevista de Antônio Neto e Fred Fuentes (do Green Left australiano) com o líder panamenho José Cambra registra este processo com rigor.
No Leste Europeu, o povo ucraniano segue resistindo à agressão imperialista russa, mesmo com grandes dificuldades militares e uma situação de impasse que se prolonga. Sobre o tema, trazemos o artigo O caminho do fascismo, do camarada ucraniano Zakhar Popovych, a Declaração da Confederação dos Sindicatos Livres da Ucrânia e a entrevista ‘Queremos uma Ucrânia livre, governada pelo povo’, com o dirigente dos metalúrgicos e mineiros Yuri Samoilov, da cidade de Krivyi Rih.
Também da Europa, registramos o levante de trabalhadores por direitos na França em Quando as batalhas apenas começam, novamente de Israel Dutra, e acompanhamos os processos eleitorais daquele continente como no texto Vitória eleitoral da extrema direita na Holanda, de Alex de Jong, ou na análise da situação grega feita por Antonis Davanellos em Grécia: o mapa político após o ciclo eleitoral de 2023.
Entre outras atividades em 2023, participamos também de dois encontros centrais na articulação anticapitalista internacional. Um deles foi o 2º Congresso Mundial contra o Neoliberalismo Educacional, ocorrido no Panamá e no qual fomos representados pela companheira da TLS Eliane Garcia, na preparação para o próximo encontro a ser realizado no Brasil, e o outro foi o Conselho Internacional do CADTM realizado no Marrocos, no qual nossa deputada Fernanda Melchionna esteve representando o MES e a luta contra a dívida pública no Brasil.
Sobre o tema das dívidas ilegítimas, publicamos também um relatório sobre o histórico do novo presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, escrito por Lena Lavinas, Erin Torkelson, Milford Bateman e Patrick Bond. Mantivemos nosso apoio aos camaradas do PST Argelino, que resistem frente a uma dura perseguição política, e acompanhamos processos no continente como as eleições nigerianas, refletidas no artigo Eleição na Nigéria: entre o desencanto e a esperança, e o golpe de estado no Níger como parte do movimento em países da região.
No centro do imperialismo estadounidense, um movimento de trabalhadores inspirador tomou força com grandes greves vitoriosas. O sucesso da greve dos metalúrgicos da UAW é descrito no texto Vitória sindical histórica no setor automotivo dos EUA, de Romaric Godin, num processo no qual houve grande mobilização antiburocrática desde a base conforme lemos em Sem a Tendência Renovadora, não haveria greve dos trabalhadores da UAW. Os trabalhadores da cultura no país também pararam, conforme relata A greve do sindicato de roteiristas nos EUA, de Howard Rodman.
Ao fim do ano, fica evidente que o marco de 2023 na história será o ataque genocida na Palestina, com o estado sionista governado pela extrema direita promovendo uma limpeza étnica contra a população de Gaza e agora tendo como alvo também a Cisjordânia. Nossos parlamentares Luciana Genro e Roberto Robaina foram dos primeiros a defender o direito à resistência do povo palestino, sendo duramente atacados pelo lobby sionista, e estivemos na linha de frente de todas as mobilizações em defesa da Palestina. Também publicamos diversos materiais de formação como o clássico Palestina: História de uma Colonização, uma das melhores obras sobre o tema, além de uma interessante entrevista sobre perspectivas da esquerda na região, da pedagógica entrevista de Luciana Genro com a professora Arlene Clemesha, da excelente Cartilha Palestina Livre produzida em parceria com a FEPAL, entre tantos outros artigos encontrados em nossa página.
A grande delegação internacional na VIII Conferência do MES expressou partes importantes destas lutas em São Paulo no início deste dezembro, demonstrando nosso compromisso com a tarefa de reorganização internacional dos revolucionários. Da mesma forma, a declaração da IV Internacional foi no mesmo sentido e nosso último editorial do ano também refletiu nosso horizonte de tarefas para o ano de 2024. A partir de tudo isso seguiremos porque nossa tarefa de construção internacional é permanente!