Mais um ano de crises do capitalismo, luta de classes e polarização social e política

Mais um ano de crises do capitalismo, luta de classes e polarização social e política

Retrospectiva de 2021 da Comissão Internacional do MES.

Comissão Internacional do MES 27 dez 2021, 15:16

A crise multidimensional continuou se desenvolvendo em 2021. A recente vitória de Gabriel Boric no Chile expressou uma grande derrota do projeto neoliberal em um ano de ataques do capital, resistências e insurgências que apresentaram respostas perante a crise. A extrema-direita também se colocou desde o início do ano, como na invasão do Capitólio dos EUA, mas não interrompeu as ações do movimento de massas mundial buscando por soluções que não podem ser encontradas no capitalismo. A máxima “socialismo ou barbárie” segue cada vez mais forte. 

Esse texto traz à tona alguns artigos que deram voz aos choques, rebeliões e insurreições que o mundo viu em 2021. Acreditamos que em 2022 essas lutas se agudizarão. O desenvolvimento da força social das mobilizações pode ser uma alavanca para avançar na construção da alternativa socialista que nos falta.

+A pandemia mostrou a pior face do capitalismo. Os países da periferia do capitalismo seguem vivendo os capítulos mais dramáticos dela e da crise econômica. Apenas 8% do território africano está vacinado com duas doses. Isso entra em choque com os lucros bilionários das Big Pharma. A campanha mundial pela quebra das patentes das vacinas contra Covid-19 e a expropriação dessas empresas é uma iniciativa que merece ser destacada.

+ As mudanças climáticas são a cara ecológica da crise. Se em anos anteriores o debate sobre ecossocialismo e o avanço das forças destrutivas engatinhava, em 2021 foi a pauta central da maior parte dos encontros das potências capitalistas. A COP-26, sediada em Glasgow, foi um vexame internacional. Num cenário de aumento de refugiados climáticos, desastres ecológicos e crise energética mundial, a Conferência foi incapaz de chegar a acordos mínimos, como a eliminação gradual do uso e exploração de carvão mineral. Mesmo nesse cenário as ruas de Glasgow deram palco às maiores manifestações de uma COP, fazendo o contraponto às estruturas do capitalismo, que fingem se autorregular. A Greve Pelo Clima foi um exemplo de luta internacionalista, que tinha a defesa da Amazônia como uma das suas pautas principais. 

+ . O colapso do setor imobiliário chinês é um fato a mais que a crise econômica crônica se avigora no terreno mundial, com a Evergrande como sua grande expressão, vivendo o mesmo “perigo moral” que os Estados Unidos suportaram na crise de 2008. A situação desenreda o debate sobre o modelo chinês e sua “prosperidade comum”, que começa a ver os primeiros passos da desaceleração da China, ao mesmo tempo em que a Europa atinge níveis recorde de inflação, com destaque para a Alemanha.

+ O fim humilhante da ocupação americana no Afeganistão mostrou que o regime de dominação mundial pós Guerra Fria está em crise. A vitória de Biden contra Trump é uma vitória parcial, mas a óbvia incapacidade do seu governo de atender as demandas da classe trabalhadora enquanto barganha acordos com os grandes capitalistas cria choques que aumentam o caos geopolítico.

+ O levante sindical dos Estados Unidos, com a massa trabalhadora e o crescimento dos socialistas aponta que a classe operária está viva e irá se empoderar de seu futuro.

+ Mianmar e Sudão tiveram golpes militares A reação popular é expressiva até mesmo nas situações mais adversas. O golpe militar instaurado em Mianmar reprime a sangue e fogo os militantes pela libertação, que resistem em túneis, escondidos, mas sem parar de lutar pela libertação. Em Sudão um grande levante popular com greve geral foi a resposta ao pretendido golpe que tentou romper o acordo por novas eleições. O golpe militar não consegue controlar os trabalhadores nas ruas, que lutam com as suas vidas pela um governo, longe dos oficiais militares.

+As insurreições populares da América Latina não pararam com a pandemia. A rebeldia é principalmente sentida na América Latina. Vivendo processos eleitorais após explosões de lutas sociais diversas, a marca das mobilizações foi a negação das políticas neoliberais.

-A derrota do fujimorismo no Peru e o triunfo de Castilho, são uma mostra da nova etapa de ascensão de lutas que vive o nosso continente. Segue uma batalha contra a direita e por uma Assembleia Constituinte. 

-O Equador, depois de passar, em 2019, por um levante popular muito forte, com protagonismo do movimento indígena e o fortalecimento eleitoral de Pachakutik. Pese a trunfo eleitoral da direita pela divisão do movimento de esquerda e popular, as condições seguem abertas, com uma população insurgente que ainda vive.

-O Paraguai é um exemplo de país que tomou as ruas exigindo vacinas. O novo “março paraguaio” deu um primeiro passo no rompimento das massas com a burguesia na presidência do país.

-A Colômbia passou por um forte processo de mobilizações que colocaram o governo Duque contra a parede. Começou com uma greve geral contra a reforma tributária, a rebeldia da burocracia sindical, e se tornou massiva. A reforma tributária foi engavetada e o ministro da fazenda renunciou ao cargo. Mas o governo respondeu com uma repressão brutal, que causou uma radicalização: se desenvolveu uma insurreição de caráter nacional, com epicentro em Cali, onde a juventude periférica na linha de frente arrastou o povo a ocupar partes importantes da cidade durante quase um mês.

+ O governo da Nicarágua e também da Venezuelana contramão das insurreições, o governo da Nicarágua e da Venezuela adotaram um rumo autoritário e anti-popular. Na Nicarágua foram presos e perseguidos os opositores do governo Ortega, que se reelegeu no meio de suspeitas de fraude, e adota cada vez mais as receitas neoliberais, contando com o apoio do Lula e do PT do Brasil. Na Venezuela, Maduro fecha os olhos para a terrível crise econômica que castiga o povo venezuelano, enquanto negocia o extrativismo do Arco Mineiro com empresas multinacionais em parceria com a boliburguesia formada em parte por militares que enriqueceram a partir da relação com o Estado e com a burguesia internacional.

+ As manifestações multitudinárias de julho, em Cuba, pedindo democracia, foram manifestações legítimas e espontâneas da população contra o regime de partido único. A defesa do legado marxista da Revolução Cubana é também a defesa do direito de crítica, e deste processo ressaltamos o papel do Blog Comunistas e da página online Jovem Cuba.

+ Na Argentina as eleições e as recentes mobilizações evidenciaram uma crise no interior do governo peronista de Alberto Fernandez, que sofreu uma derrota muito grande. Ao mesmo tempo, a esquerda representada Frente de Izquierda de los Trabajadores (FITU) teve vitórias.

-No Brasil, queremos destacar o passo importante da luta camponesa. Se consolida a Frente Nacional de Lutas (FNL), um racha do Movimento dos Sem Terra (MST) que deixa de lado o imobilismo e está realizando novas ocupações em áreas rurais, o que reviveu a perseguição da liderança José Rainha, e o movimento respondeu com uma enorme marcha de Sorocaba até São Paulo, arrancando vitórias importantes que colocam a FNL na vanguarda das lutas populares do campo e da cidade.

-Também é importante destacar o crescimento da ala anticapitalista no interior do PSOL. Após um Congresso Partidário que dividiu o partido na questão de construir ou não uma candidatura própria para não ficar a reboque do lulismo, com a participação de mais de 50 mil filiados, a ala anticapitalista teve 44% dos delegados na votação sobre o tema. O MES teve uma atuação imprescindível, mas o destaque é a consolidação de um bloco que defende a independência do PSOL da burguesia e do petismo, e o enraizamento de um programa e uma alternativa socialista.

-Concluimos com Chile, o melhor exemplo. O triunfo da nova constituinte foi consequência da grande insurreição de 2019 e, mesmo com as contradições de Boric, o resultado das últimas eleições presidenciais demonstra a força do movimento por mudanças naquele país e reflete as esperanças de todo o continente. 


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Pedro Micussi